sexta-feira, 4 de julho de 2014

Comportamento Verbal - Um Programa* {Parte 1 de 5}

         
       Skinner (1957) propôs em seu livro Verbal Behavior uma análise inovadora dos fenômenos verbais, diferente das análises propostas pela Psicologia tradicional e Linguística. O objetivo principal do autor é demonstrar que comportamentos como o falar, escrever, pensar, e todas as formas de verbalização são determinados por variáveis que compõe o contexto dos indivíduos e por isso podem ser analisados funcionalmente e não só topograficamente. Para o autor, é preciso encarar a comunicação humana como um comportamento social e não como um evento metafísico, pois o comportamento verbal trata-se de pessoas se comportando dentro de uma comunidade verbal e não de estruturas linguísticas, psíquicas ou mentais. Ele também explica que não usa do termo "fala" para não restringir o fenômeno a comportamentos vocais e não desconsiderar o pensar, o escrever, o ler, etc.
No que se refere ao comportamento vocal, Skinner (1957) mostra que o comportamento verbal vocal é executado por uma complexa musculatura decorrente de um aparato biológico, selecionado ao longo da evolução e característico da espécie humana. O autor aponta que este tipo de comportamento pode ser medido por meio de registros acústicos ou mecânicos, mas ressalta que as complexas respostas musculares do comportamento vocal afetam o meio verbal pela produção da "fala" audível e que não precisamos conhecer todos os detalhes de uma resposta vocal desde que o padrão sonoro que ela produz obtenha certo efeito sobre uma comunidade verbal específica.
Skinner (1957) aponta que o comportamento verbal é usualmente o efeito de múltiplas causas e suas consequências são mediadas por outras pessoas, um ouvinte especialmente treinado pela mesma comunidade verbal do falante. Em outras palavras, o comportamento verbal é definido como um comportamento cujos efeitos sobre o mundo só são possíveis pela mediação de outras pessoas. O autor ainda demonstra que o comportamento verbal é um operante verbal, ou seja, está sob controle de estímulos antecedentes e é suscetível a reforçadores. Um operante verbal precisa ser analisado de forma funcional, apontando os estímulos ambientais que antecedem o comportamento verbal e demonstrando que suas consequências, reforçadoras ou punitivas, serão mediadas pelo ouvinte. Pode-se dizer que, diferente de outros comportamentos operantes, o operante verbal é regulado por práticas culturais.
Segundo Skinner (1957) o ouvinte responde aos estímulos verbais produzidos pelo falante. O indivíduo é falante ao comportar-se verbalmente perante o outro e torna-se um ouvinte ao comportar-se funcionalmente em relação a estímulos verbais produzidos por outros indivíduos ou por si mesmo. O comportamento do falante e do ouvinte, em interação, compõe aquilo que se chama de episódio verbal total.
Um exemplo de análise funcional de um episódio verbal segue abaixo:
Em um episódio de compra uma pessoa (falante) está diante de um produto sem preço e pergunta a outra pessoa (ouvinte): “Quanto custa?”. O ouvinte responde: “R$20,00”. Observa-se que para resolver um problema o falante recorre a um ouvinte; o comportamento do falante de perguntar o preço do produto é reforçado pelo ouvinte quando este lhe diz o preço. Saber, por meio de outra pessoa, o preço de um produto que antes não se sabia é a consequência mediada que o comportamento do falante produziu. Por meio da análise funcional deste episódio verbal, podemos inferir que o falante perguntou o preço do produto para outra pessoa porque provavelmente teve o mesmo tipo de comportamento reforçado anteriormente em contextos parecidos.
Neste programa, Skinner (1957) também trata das variáveis independentes que devem ser manipuladas e que ajudam a compreender o comportamento verbal, as principais são: condicionamento e extinção, controle de estímulos, motivação e emoção e controle aversivo. O autor insiste que entendamos que o comportamento verbal é um conjunto de variáveis determinadas pelo contexto de sua emissão. E que a análise deste fenômeno deve ser funcionalista e contextualista, mesmo que seja mais difícil do que simplesmente entendê-lo de forma metafísica e mentalista. O autor aponta, ainda, que os comportamentos verbais dependem fortemente de fatores motivacionais (operações estabelecedoras) e que os episódios verbais pressupõem a existência de audiência, o que implica no fato de que todo comportamento verbal é social.
Considerações Finais
O papel da causação múltipla e da consequência mediada na análise do comportamento verbal é ao mesmo tempo rico e complexo. Este tipo de análise é fundamental para a explicação do comportamento verbal, que não pode ser definido apenas por suas consequências, o contexto também deve ser levado em consideração.
A proposta Skinneriana da análise funcional do operante verbal é fundamental para a compreensão dos fenômenos sociais, principalmente porque este tipo de comportamento é extremamente frequente no cotidiano das pessoas. Para a prática da Psicologia, a análise funcional dos episódios verbais torna-se instrumento fundamental para o entendimento de fenômenos que envolvem: a construção alguns padrões comportamentais (como os de gênero), as manifestações artísticas (como teatro e literatura), a prática psicológica (como na clínica), etc. A proposta de Skinner permite que o comportamento verbal seja estudado de forma interdisciplinar, pois as múltiplas variáveis de controle podem ser fragmentadas e explicadas por diversas áreas do conhecimento humano.

Referência
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. Cambridge, Massachusetts: B. F. Skinner Foudation.

*Texto desenvolvido a partir do aprendizado na disciplina Comportamento Verbal do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento da UNB.

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