A filosofia
Comportamentalista é uma das principais em Psicologia e na Análise do
Comportamento Humano e fornece muitas constribuições para o entendimento da sexualidade humana e das regras sociais que dão colorido a este tema. Embora as sexualidades sejam muito bem abordadas pelas
ciências biológicas e pelas ciências sociais, a Análise do Comportamento traz
suas contribuições e preocupações científicas para estes fenômenos quando
defende que as vivências humanas só são possíveis por meio da interação entre
vários aspectos da vida, sejam eles biológicos, culturais, psicológicos,
educacionais, entre outros. A ideia aqui é de uma rede de interações em que as
pessoas estão inseridas desde a infância e continuarão interagindo com esta
rede até a morte. Em
outras palavras, a Análise do Comportamento investiga o que compõe a construção
das vivências humanas por meio da análise da interação dos múltiplos fatores
que compõe a história de aprendizagem tanto individual quanto cultural, em que
as pessoas, com seu aparato físico/biológico/genético interagem com as regras e
normas da cultura que são passadas de geração em geração.
Para falar sobre sexualidade é preciso apontar que, embora as técnicas comportamentalistas tenham sido muito utilizadas, nos anos
70, nas terapias de reversão das homossexualidades, atualmente análise do comportamento é uma área do
conhecimento humano muito cuidadosa e preocupada com qualidade de vida das pessoas,
bem como em avaliar criticamente as condutas impostas pela nossa sociedade.
Considerando
este pensamento, como podemos analisar o comportamento da Lesbofobia?
Enquanto
a homofobia caracteriza-se como um medo, rejeição e hostilização em relação aos
homossexuais de modo geral, a lesbofobia, mesmo sendo uma prática com características comuns
da homofobia, apresenta o diferencial da supremacia masculina, que muitas vezes
é imposta por meio do assédio e da violência sexual. Neste sentido, a
lesbofobia traz uma dupla discriminação, a da mulher e da lésbica. Neste tipo
de violência há, por exemplo, os chamados “estupros corretivos”, em que os
homens violentam as Lésbicas com a finalidade de reverter sua sexualidade por
meio de uma imposição sexual altamente danosa a essas mulheres. Há ainda uma desqualificação
de todas que não correspondem ao ideal normativo da sexualidade feminina, ou
seja, a heterossexualidade e a gestação de filhos. Isso porque as expressões sexuais
não heterossexuais ainda são vistas como desvio, crime, aberração, doença, perversão,
imoralidade ou pecado.
Considerando
estas características e definições, aqui apresentadas de forma resumida, o
comportamento lesbofóbico também pode ser analisado por meio de um processo de
aprendizagem dinâmico, complexo e longo que envolve várias formas de se
elaborar as vivências lésbicas. Eu poderia pontuar várias formas de aprendizado
dos comportamentos lesbofóbicos, mas vou apresentar a ideia geral desse
aprendizado. Meu interesse em fazer isso é para deixar claro que uma ou outra
forma de aprendizado ajuda a compreender o fenômeno da lesbofobia, mas não o
explica satisfatoriamente. De que adianta dizer que um indivíduo faz o que faz
porque viu os pais fazendo? Ou, de que adianta dizer que um estuprador é um
psicopata ou que uma mulher lesbofóbica não está à vontade com a própria
sexualidade? Isso não ajuda na Análise Comportamental, pois como já foi dito, é
preciso haver uma interação entre os eventos que compõe a vida das pessoas e o
interesse do analista do comportamento é buscar estes elementos nas histórias individuais/grupais e desvendar como eles interagem na formação dos comportamentos.
Então,
como é que uma pessoa se torna Lesbofóbica? Podemos levantar muitos elementos
que contribuem para a construção psicossocial da lesbofobia. Vejam: Assim como
sabemos que são poucos os comportamentos inatos e que muitos deles são coloridos
pelas vivências sociais, sabemos que a lesbofobia não é inata e está fortemente
ligada aos padrões sociais já estabelecidos. Então, quando as pessoas surgem no
mundo, elas já são inseridas em um contexto onde é um grande problema não ser
heterossexual ou não desempenhar os papeis de gênero esperados pela sociedade.
Começando por isso, por uma sociedade já sistematizada com padrões, normas,
moralidades, religiosidades, etc, essa pessoa que acabou de nascer, estará
isenta das influências sociais na construção de seus comportamentos? Em geral não. Então, em uma cultura onde há uma interação
de mensagens da família, da escola, das religiões, do sistema jurídico, da
mídia, e tantas outras, dizendo que exercitar sua sexualidade com pessoas do
mesmo sexo é algo abominável e que a heterossexualidade é o comportamento
saudável e correto, fica evidente que as pessoas terão licença para
apresentarem comportamentos homofóbicos ou lesbofóbicos. E essa “licença para
lesbofobia” é fortalecida por esta sociedade que ainda encontra obstáculos em
promover o reconhecimento e a igualdade da população das mulheres e de LGBTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais).
Considerando
então os eventos que interagem na aprendizagem da lesbofobia, aponto para os
mesmos eventos para falar sobre o processo de combate deste fenômeno.
Quando
falamos de educação em diversidade sexual, de criminalização da homofobia, de
igualdade de direitos e de liberdade de expressão, estamos sinalizando que
existem possibilidades de reconstrução e ressignificação das práticas sociais
que ainda dificultam a plena vivência não só das lésbicas, mas de todas as
sexualidades que não representam o ideal heteronormativo. Neste sentido, a Análise
do comportamento traz sua contribuição com intervenções que também podem passar
por várias formas de aprendizado e demais mecanismos, só que de uma forma
diferente; preocupando-se com a aquisição de direitos e com a qualidade de vida
das mulheres e de lésbicas.
Sabemos
que o sistema jurídico tem avançado e muitas coisas foram conquistadas, mas
este sistema será suficiente na reconstrução das mensagens sobre as mulheres e
lésbicas? A Análise do Comportamento nos diz que não. Pois lembrem-se, é
preciso haver uma interação entre diversos eventos para que um comportamento seja
possível e fortalecido. Neste sentindo, as leis exclusivas para as mulheres e
para as lésbicas podem ser praticadas em interação com a prática do
conhecimento, das desmistificações e de mensagens positivas nas escolas sobre
as mulheres, seus corpos e suas sexualidades.
Contudo,
não é só a criminalização da homofobia ou as leis de proteção às mulheres que
vão "dar conta" na luta contra o preconceito e a violência; embora as leis sejam
muito importantes, elas precisam ser adicionadas na sociedade junto com a
educação em diversidade sexual e com a reprodução dos conhecimentos científicos.
Com esta interação de mecanismos a favor da igualdade e do respeito, diversas
situações de aprendizagem estarão inseridas na história de vida das pessoas, fortalecendo, então, os comportamentos que envolvem igualdade, respeito e dignidade às mulheres e LGBTTs.
A
reflexão que trago repetidamente da Análise do Comportamento é a de que um
único controlador social não é suficiente para se produzir os ganhos na luta
contra as homofobias, este controlador social precisa de aliados como a ciência
e a educação.
Para ler:
Travassos,
R. (2011). Lesbofobia e estupro corretivo. Retirado de http://papodelas.gay1.com.br/2011/08/lesbofobia-e-estrupo-corretivo.html.
Em 30 de setembro de 2012.