quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A Análise do Comportamento na Prática Clínica: Utilizando o Modelo Selecionista Para Compreender as Queixas dos Indivíduos.

Profissionais da Psicologia em sua prática clínica se deparam com fenômenos diversos. Entendem que o indivíduo precisa ser acolhido e que seus comportamentos precisam ser analisados desde a raiz até o presente momento. Assim, será possível revelar as variáveis responsáveis pela aquisição e manutenção dos comportamentos e, assim, prever ocorrências no futuro.

Os comportamentos que são de interesse dos psicólogos e analistas do comportamento são resultado da interação entre os organismos e os ambientes ao longo de uma linha temporal. A concepção do que vem a ser comportamento a partir de uma visão científica foi desenvolvida pelo pesquisador B. F. Skinner em 1945 com a proposição da filosofia BEHAVIORISMO RADICAL.


O Behaviorismo ou comportamentalismo é uma atividade filosófica que se ocupa, principalmente, de questões acerca da natureza do comportamento humano e quais são os meios adequados para estudá-lo (Moreira, 2007). O termo RADICAL vem de RAIZ (origem). Assim, Behaviorismo Radical é a atividade filosófica, cujo objeto de análise é o comportamento a partir de suas origens.

Parte da compreensão dos fenômenos comportamentais se faz possível a partir do Modelo Selecionista, cuja origem do termo se origina da teoria evolucionista da Seleção Natural de Charles Darwin e Alfred Wallace para explicar a origem das espécies. Na Seleção Natural, membros de uma mesma espécie com características mais adaptativas ao ambiente em que vivem têm mais chances de sobreviver e de passar suas características aos seus descendentes. Skinner amplia o modelo selecionista ao estendê-lo para a esfera ontogenética e cultural. Assim, não é só na origem das espécies (filogênese) que a seleção atua, também na história de vida do indivíduo (ontogênese) e nas práticas culturais de um povo (Skinner, 1953/2000).


O Modelo Selecionista não recorre somente às explicações biológicas/genéticas como determinantes dos comportamentos. Por meio da ontogênese e da cultura, os comportamentos, frutos das interações entre os organismos e os ambientes, são selecionados ou não por suas consequências. Assim, o clínico emprega o raciocínio selecionista na compreensão de como os comportamentos dos clientes foram adquiridos e estão sendo mantidos.


Exemplo: Queixa de ansiedade ou diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Generalizada (CID:F41.1). Após identificar os comportamentos que caracterizam a ansiedade (respostas biológicas, pensamentos, padrões de fuga/esquiva, etc), é necessário contextualizar as situações passadas e atuais a ela relacionadas.

• Quais são as variáveis determinantes da ansiedade e por que ela se mantém no contexto atual? Qual é a função da ansiedade na vida de um indivíduo específico?

O Modelo Selecionista ajuda o clínico a responder as questões acima pautando sua análise por meio das seguintes reflexões:

     • Por mais que um padrão comportamental esteja trazendo problemas a alguém, por mais que este alguém esteja insatisfeito com sua forma de agir, tais comportamentos foram fortalecidos no passado em um ou mais contextos.

     • Tais comportamentos foram funcionais ao remover, evitar ou atenuar punições ou a garantir reforçadores positivos.

     • Dizer que os comportamentos são produtos da interação entre os organismos e os ambientes ao longo de uma linha temporal e que é nesta interação que encontraremos as variáveis de aquisição e manutenção dos comportamentos, é dizer que esta análise trará mais coerência entre o que aconteceu no passado com o que ocorre no presente da vida dos indivíduos.

Questões Éticas

Alguns aspectos éticos em Psicologia envolvem a questão da mudança comportamental. Para o analista do comportamento, é fundamental avaliar as contingências que levam alguém a querer mudar, ou seja, mais importante do que querer ou não mudar, é o que leva alguém a querer ou não mudar. Em algumas situações, respostas que trazem consequências punitivas, podem ser fortalecidas em outras ocasiões. Assim, os padrões comportamentais precisam ser compreendidos a partir das variáveis atuantes ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Padrões do comportamentos que são socialmente indesejáveis, também podem gerar benefícios para um indivíduo específico. Apenas produzir alterações na vida das pessoas sem considerar a seleção comportamental, além de ser um atropelo à identidade do sujeito, pode também gerar mais prejuízos do que ganhos.

Referências

Moreira, M. B. (2007). Curtindo a vida adoidado: Personalidade e causalidade no behaviorismo radical. Em A. K. C. R. de-Farias & M. R. Ribeiro (Orgs.), Skinner vai ao cinema (pp. 11-29). Santo André: ESETec.

Skinner, B. F. (1953/2000). Ciência e Comportamento Humano (J. C. Todorov & R. Azzi, trads.). São Paulo: Martins Fontes. 
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