segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A Interação Entre Fatores Biológicos e Ambientais na Vida Humana

É comum, quando falam sobre comportamento humano, perceber certa polêmica quanto à origem e manutenção das ações que as pessoas exercem no mundo. Sempre há  discussão e confusão sobre as questões inatas ou aprendidas dos comportamentos humanos. “Fulano faz o que faz por que nasceu assim? As atitudes de Siclano foram aprendidas com seus pais? Beltrano é violento em decorrência de fatores biológicos ou sociais?”. Na busca de respostas para estas perguntas, a polêmica emerge. Felizmente esta discussão já se tornou retrógrada, pois atualmente os conceitos de inato e/ou adquirido não são mais excludentes.
Do ponto de vista de psicologia (principalmente da Análise do Comportamento) e da ciência atual, as pessoas nascem com um aparato biológico/fisiológico que permite que vários comportamentos sejam possíveis. O desenvolvimento potencial destes comportamentos ocorrerá em acordo com vários fatores, entre eles a estimulação adequada. Como os humanos são muito vulneráveis e desamparados ao nascer, durante toda a sua vida eles necessitarão aprender constantemente uma gama de habilidades que os ajudarão a viver em um mundo que está em contínua transformação. O aprendizado destas habilidades ocorre de forma social. Neste sentido podemos pensar que há uma interação entre os elementos biológicos e culturais; este movimento constante é o que fortalece os comportamentos humanos. Em outras palavras, os fatores sociais (cultura, ambiente, escola, família, religião, economia, etc.) e os biológicos (genética, fisiologia, neurologia, etc.) vão se delineando e interligando em uma complexa rede de eventos e comportamentos e, assim, formarão o complexo sistema psicológico dos indivíduos e dos grupos.
Contudo, podemos afirmar que uma pessoa, por exemplo, é violenta porque nasceu assim ou porque aprendeu a ser assim? Nenhuma das alternativas pode ser uma resposta suficiente e adequada para responder o que determina este e outros comportamentos. Como a vida humana é constituída biologicamente e culturalmente, de forma complexa, não é possível afirmar que um único fator, seja ele biológico ou ambiental, determinará certo comportamento. A ideia é que apenas um fator não tem força suficiente para determinar nenhum comportamento, mas que este fator interagindo com outros diversos fatores é que fortalecerá a ocorrência e manutenção dos comportamentos. 

Sugestão de Leitura
Ciência E Comportamento Humano de B. F. Skinner

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Que Parasita Você?

     Navegando pela internet, encontrei um texto que descreve a relação de um fungo parasita e uma formiga. Bem... Não é exatamente uma relação, já que o fungo parasita "comanda" e "influencia" a formiga para seu próprio benefício. A formiga, nesta história, é apenas uma marionete, um zumbi.
     A história é a seguinte: O fungo parasita infecta a formiga e deixa-a viva por um tempo; durante sua hospedagem o fungo "controla" os comportamentos da formiga, faz com que ela saia de seu ninho e procure outras regiões. As formigas sobem em folhas rasteiras, e morde-as logo antes de morrer. Depois da morte da formiga, o fungo continua a crescer, e por meio de mecanismos particulares, libera esporos e infecta outras formigas que passarem pelo local. Continuando com o processo, o parasita usa o corpo da formiga como alimento.
     Este fenômeno da natureza é muito curioso e me serviu como uma boa analogia para pensar a respeito de parasitas que podem influenciar a vida humana. Quando pensamos sobre as pessoas que comandam guerras, sobre políticos corruptos, criminosos ou indivíduos com comportamentos bizarros, logo dizemos: "O que essa pessoa tem na cabeça?". Dificilmente será um parasita; pelo menos não um com as mesmas habilidades do fungo que "controla" a formiga.
Podemos pensar que os controles e influências da vida humana são aqueles de uma ordem mais cultural e que não afetam só a cabeça ou cérebro dos indivíduos, mas o organismo da pessoa como um todo, bem como suas relações com o mundo em que vive. Nesse sentido, fica fácil traduzir a analogia da formiga zumbi "controlada" por um habilidoso parasita.
Salvador Dali
     Quais os parasitas que mais podem influenciar as condutas humanas? A religião, a escola, a família e tantos outros elementos sociais e culturais. Acontece que, diferentemente da formiga, nós dispomos de mecanismos para avaliar e interpretar estes controles; as mensagens que nos passaram desde nosso nascimento. Assim, podemos decidir se estes parasitas podem contribuir ou prejudicar o desenvolvimento de nossas vidas.
     Este processo de avaliação, interpretação e decisão sobre o que nos controla é uma tarefa que envolve primeiramente a identificação das influências socioculturais (dos parasitas). Em conjunto com este processo, será necessário um exercício constante, rígido, porém fantástico, de autoconhecimento. Dispondo destes e de outros instrumentos, nós seremos capazes de fazer escolhas importantes para nossa vida.
         É possível perceber que todo este processo não é tão fácil e envolve um movimento de construção e desconstrução que pode levar algum tempo. Para tanto, sugiro que se inicie uma Psicoterapia; um processo psicoterapêutico ajudará, primeiramente, no delineamento do que contribui para a subjetividade e, posteriormente, nas escolhas sobre o que fazer com os esses parasitas socioculturais.


Sugestão de Leitura: Parasitas transformam formigas em zumbis obedientes. Em http://hypescience.com/19932-parasitas-transformam-formigas-em-zumbis-obedientes/

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os Papeis e os Saberes da Psicologia.


  Quando ingressei no curso de psicologia aprendi que o papel central do psicólogo firma-se na avaliação de comportamentos e contextos para que seja possível a modificação destes comportamentos e contextos caso estejam interferindo no bem estar do indivíduo e/ou grupo. Para avaliar os objetos psicológicos e estabelecer uma futura intervenção, o psicólogo deve aprender e carregar um conhecimento vasto sobre os elementos que compõe as demandas humanas.
  Na realização de seu trabalho, o psicólogo se comunica com outras áreas do conhecimento humano, como: biologia, medicina, filosofia, sociologia, sexologia, educação, etc.  Ressalta-se também aqueles profissionais psicólogos que buscam conhecimentos sobre as demandas espirituais de seus clientes. Contudo, é possível conceber a psicologia como um saber vasto e colorido de outros saberes. E é evidente que essa multidisciplinaridade de conhecimentos abra diversos campos e papeis para a prática dos psicólogos.
  Acontece que a prática da psicologia, há um tempo significativo, vem sendo contestada pela falta de exclusividade para com o conhecimento humano.
Vi e ouvi, durante minha formação e vida profissional, pessoas apontando que o psicólogo pode ser substituído por qualquer outro profissional em qualquer outro contexto. Vejamos: Um psicólogo clínico pode ser substituído por um psiquiatra, ou filósofo clínico, ou terapeuta espiritualista? Um psicólogo escolar pode ser substituído por pedagogo, psicopedagogo ou orientador escolar? Um psicólogo social pode ser substituído por um sociólogo ou assistente social? Um psicólogo organizacional pode ser substituído por um administrador?
  Para responder estas perguntas eu cito aqui parte do Art. 4º da Lei nº 4.119, 27 de agosto de 1962, que dispõe sobre a Profissão de Psicólogo - São funções do psicólogo:
1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de:
a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento.
  Agora pergunto: Somente os psicólogos conseguem cumprir com estas funções? Estamos vendo que não. E por esse motivo é que sabemos que os outros profissionais citados acima, além de partilharem conhecimentos parecidos com os da psicologia, podem ajudar também nas demandas humanas assim como um psicólogo faria.
  E a exclusividade do manuseio e análise dos testes e instrumentos psicológicos garantida pela Lei nº 4.119/62 e pela Resolução CFP n° 02/2003? Embora seja uma prática privativa dos psicólogos, sabemos que muitos profissionais não utilizam testes em seus trabalhos. Além disso, boa parte dos instrumentos psicológicos não foram produzidos por psicólogos e não avaliam construtos que só psicólogos dominam.
  Estamos diante de uma polêmica quanto à prática profissional dos psicólogos. E frente a esta polêmica eu me posiciono apontando que os saberes da psicologia, por serem multidisciplinares, precisam muito mais de bases teóricas fortes e de procedimentos que diminuam as armadilhas das inferências e que apontem para evidências.      Neste sentido, as pesquisas em psicologia estão contribuindo bastante e isso já ajuda no delineamento de uma psicologia forte e indispensável para a sociedade. Mas acredito que as Universidades ainda precisam rever os conteúdos e conhecimentos repassados aos futuros psicólogos, pois tenho visto muitos profissionais descomprometidos com a responsabilidade social, científica e ética da psicologia. Tenho visto psicólogos chiques com discursos chiques e sedutores, mas sem apresentar nenhuma evidência verídica de suas falas. Isso desqualifica a profissão e abre contestações quanto às nossas práticas.
  Se nós psicólogos escolhemos esta profissão para responder as demandas humanas e estabelecer intervenções em prol da saúde mental dos indivíduos e grupos, precisamos voltar às funções de nossa profissão e ressignificar nossas práticas enfocando nosso compromisso com a sociedade, com a ciência e com a ética.

Sugestão de Leituras:
Profissão de Psicólogo - Lei nº 4.119, de agosto de 1962. Em http://portalsaude.vilabol.uol.com.br/4119_1962.htm

Resolução CFP nº 2 / 2003. Em http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/legislacao/resolucao/resolucao_2003_002.html

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