Durante uma psicoterapia é
esperado que os clientes desenvolvam autoconhecimento, aprendam habilidades
sociais mais adaptativas, façam enfrentamentos gradativos, sintam-se mais
harmonizados com seus ambientes e que se tornem terapeutas de si mesmos. Se você
estiver em um processo psicoterapêutico ou tem interesse em iniciar algum
acompanhamento psicológico, saiba que profissionais da psicologia irão, em
geral, incentivar seus clientes a adotar práticas que auxiliem neste processo.
É possível que seu ou sua psicoterapeuta incentive alguma prática de esporte,
algum contato com arte ou alguma interação em grupos com os quais você se
identifique. Tais atividades irão calibrar o aprendizado adquirido em
psicoterapia e poderá agilizar e fortalecer o processo.
Sabemos que ambientes
desafiadores, estimulantes e acolhedores aumentam a probabilidade de ocorrência
de comportamentos que produzem bem estar aos indivíduos.
Assim, se você está
engajado em uma psicoterapia e em concomitância você pratica alguma atividade esportiva,
artística ou qualquer outra que exija amplo repertório comportamental, então
terá a probabilidade aumentada de aprender autoconhecimento, habilidades
sociais e conseguirá enfrentar melhor suas dificuldades. Por isso, ao se
engajar em um processo psicoterapêutico, esteja aberto às propostas da terapia
e se beneficie!
Uma de minhas pacientes, Luíza
(nome fictício) foi incentivada à prática de esportes em decorrência de seu
repertório com as atividades do vôlei. Durante seu processo, identificamos que
uma atividade recreativa estava contribuindo não só para seu bem estar físico
como estava ajudando no desenvolvimento de sua autoestima e nas habilidades sociais.
Combinamos que ela escreveria sobre esta parte de seu processo e o texto ficou
tão didático e belo que pedi sua autorização para postá-lo neste blog. Segue:
O esporte como exercício de amor próprio *
Para
além das questões orgânicas, cada pessoa desenvolve seu corpo de forma
singular. O corpo, por sua vez, recebe constantemente influência do ambiente
que o molda ao longo dos anos. E, numa via de mão dupla, este mesmo ambiente
também é constantemente transformado pela maneira como nos expomos a ele.
Assim, se constrói um corpo que pode ser rígido ou flexível, leve ou carregado,
livre ou aprisionado, etc.
Eu
vivi uma relação um tanto contraditória com meu corpo. Desde a infância, a
timidez, a introspecção e a dificuldade de interagir socialmente foram moldando
um corpo fechado, medroso, travado. Porém, o respiro se dava nas brincadeiras
de correr, de andar de bicicleta, de jogar bola, de praticar esportes. Nesse
contexto os movimentos eram livres e despreocupados.
Então,
veio a adolescência, fase em que a gente parece não se enquadrar em lugar
nenhum, e todos os medos passam a paralisar o corpo e o processo de interação
com o mundo. Mas, como novo refúgio, o vôlei passou a ocupar um espaço maior na
minha vida. Então, na quadra, minha energia, antes retida, se liberava junto
com o suor, com o esforço, com a marcação do ponto.
Chegou
a época de decidir o que fazer da vida profissional e eu, sempre carregando
sentimentos de inadequação e desconforto em relação ao meu papel no mundo,
enxergava como única possibilidade de escolha uma formação que estivesse ligado
ao esporte. Foi assim que iniciei a graduação em educação física. Lá enfrentei
grandes desafios de exposição ao ambiente. Nunca me esqueci de uma aula de
dança contemporânea onde tive que fazer uma apresentação individual valendo
nota. Tentei imitar os colegas que se apresentaram antes. Eu tinha apenas que
realizar movimentos lentos e desordenados acompanhando o ritmo suave da música.
Fácil, não? Ficar no meio de uma roda de pessoas, dentro de uma sala espelhada
e sendo avaliada pela professora? Não!!! Não foi nada fácil. No final da
apresentação uma colega querida disse, pra minha surpresa, que me saí bem. Mas
eu só queria que aquele momento passasse logo, me sentia desconfortável e
ridícula; queria fugir.
Já
nas modalidades de quadra me sentia bem mais à vontade, me adaptava facilmente
aos movimentos rígidos dos esportes com suas regras claras. Ao final de quatro
anos veio a formatura, no entanto, não tive estrutura emocional para encarar os
desafios pessoais da profissão, por exemplo, ministrar aulas. Era mais
confortável sentar em frente a um computador e resolver questões burocráticas e
repetitivas.
E
assim, passaram-se os anos e não atuei na minha área de formação. Mas sempre
busquei o esporte como abrigo, como fonte de prazer, como forma de liberar a
energia represada e, sobretudo, como uma maneira de ser e estar no mundo. Hoje,
com 37 anos, e experimentando um processo gradativo e cuidadoso de
autoconhecimento, o esporte continua sendo meu grande aliado no enfrentamento
dos obstáculos pessoais e na busca pelo amor próprio. Quando estou na aula de
vôlei sinto que aquele momento é só meu, interajo com as colegas sem expressar
timidez e a sensação de alegria e bem-estar é indescritível.
Ganhar
ou perder é o que menos importa. O mais valioso é o sentimento de pertencimento
a um grupo e todo o aprendizado decorrente da exposição neste contexto. Dito
isso, a prática de esporte tornou-se, para mim, um exercício de amor próprio em
razão dos ganhos em saúde (melhora no condicionamento, na disposição física e
nas taxas de colesterol), autoestima (sensação de capacidade, de empoderamento
e de autoconfiança) e habilidades sociais (criação de vínculos de amizade,
expressão de opiniões, sentimentos e atitudes).
*Autorizado para publicação utilizando o nome
fictício Luíza.
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