![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYFWUUmaLSZnEOcDORwLjuZxA4WSduJJOD6pI7MVT45Re5-9ohkdsS0cOsAOA91ToE-VAcq6A7CnO1QSm-GpXJL2lZDJH245lFuQsxsXePoLSnsivemEWgJs5WOft9PVMspZIXQUZgXwA/s320/maquina-escrever.jpg)
Outra forma de definir o autoclítico
é dizer que este não é um operante verbal independente, pois ele serve para
completar e acompanhar os outros operantes verbais primários (mando, tato,
ecóico, textual, transcrição e intraverbal) e dar mais informações ao ouvinte
do que acontece no mundo do falante. Por isso diz-se que o autoclítico é um
operante verbal secundário.
Para Skinner (1957), é importante revelar e estudar
algumas estruturas da linguagem praticada pelas comunidades verbais sem que
para isso o falante seja apontado exclusivamente como alguém que possui
necessidades, intenções ou atitudes propositais internas que o inclinam a emitir
certas respostas verbais. As estruturas da língua presentes nos operantes
autoclíticos são adicionadas aos episódios verbais pelo controle das variáveis
ambientais e históricas dos indivíduos que compartilham uma mesma comunidade
verbal e não por entidades internas.
Na obra de Skinner é possível identificar alguns
tipos de operantes verbais autoclíticos, a contar: os descritivos, os qualificadores,
os quantificadores, os relacionais e os de manipulação. Os autoclíticos
descritivos são operantes verbais que permitem o falante discriminar, descrever
ou tatear para o ouvinte o seu próprio comportamento verbal e as condições que
o inclinam a se comportar (Souza, Miccione & Assis, 2009). Um exemplo de
uma afirmação descritiva com elementos autoclíticos poderia ser a seguinte: “Vejo
um gato preto lá, tome cuidado, pois hoje é sexta-feira 13”. Este tipo de
afirmação descritiva oferece ao ouvinte informações sobre o que controla a
resposta verbal do falante e indica como o ouvinte deverá se comportar diante
desta frase. O autoclítico descritivo também pode ocorrer sob controle de eventos
emocionais ou motivacionais, podendo informar a força de uma resposta (ex.:
“Tenho certeza de que é um gato preto” e “Acho que é um gato preto”) e apontar
o tempo no qual o comportamento ocorre (ex.: “Eu vejo um gato preto”, “Eu vi um
gato preto”, “eu verei um gato preto”).
O autoclítico qualificador é o operante verbal que depende das
relações de controle estabelecidas em um episódio verbal completo.
Três
categorias são importantes para explicar este tipo de autoclítico. O primeiro é
o autoclítico qualificador de negação, caracterizado aqui pela expressão “Não”.
Ao ser emitido, um “Não!” pode tatear os eventos relacionados ao episódio
verbal em questão, por exemplo, em “O gato preto não está lá!”, a unidade
autoclítica “não” qualificou, por meio de um tacto, um evento do ambiente. O
segundo autoclítico qualificador diz respeito às afirmações que modificam o
comportamento do ouvinte, pois indicam a existência de concordância entre o que
é dito e o estado das coisas do mundo, ou seja, um “Sim!” é uma confirmação dos
eventos do ambiente. Por exemplo, dizer a alguém a afirmação “É um gato preto”,
confirma melhor um evento do ambiente do que dizer: “Acho que é um gato preto”.
Já o terceiro tipo de autoclítico qualificador diz respeito aos elementos
verbais denominados de advérbios ou
adjetivos pela gramática de uma determinada comunidade verbal. Alguns
exemplos são: “Felizmente”, “Seriamente”, “Provavelmente”, entre outros. Assim,
a emissão desse tipo de autoclítico qualificador (ex.: “Provavelmente veremos
gatos pretos nesta sexta-feira 13”) sinaliza para o ouvinte que o controle de uma
resposta verbal pode não ter a mesma qualidade e magnitude dos autoclíticos de negação e afirmação. Para Skinner (1957), a função autoclítica também pode
ser exercida por um olhar malicioso ou por um tom de voz.
O autoclítico quantificador diz respeito àquelas
respostas verbais caracterizadas pela gramática tradicional como adjetivos e
advérbios de quantidade e de tempo (ex. poucos,
muitos, alguns, todos, sempre) e os artigos definidos de
número e gênero (a, as, o e os) que
informam as propriedades do comportamento do falante e as características
dessas propriedades (Souza, Miccione & Assis, 2009). Por exemplo, as frases
“Alguns gatos pretos passaram aqui” e “Um gato preto passou aqui” pode afetar de
forma diferente o comportamento do ouvinte, ao permitir que ele entre em
contato com as propriedades quantitativas que controlaram a emissão da resposta
verbal do falante.
Já o autoclítico relacional diz respeito aos
aspectos gramaticais e sintáticos do comportamento verbal e pode ser entendido
como as preposições, conjunções, pontuações e outras formas de concordâncias
verbais de tempo, gênero e número. É o autoclítico relacional que permite que
as unidades verbais e os operantes básicos se ampliem e tomem novas funções. Por
exemplo, dizer “Ela tem medo de gato preto” indica que há uma relação entre
“gato preto” e “medo” ligados pela expressão “de” e, ainda, indica um aspecto
relacional contido na história do indivíduo. Há ainda o autoclítico de
manipulação, em que o falante pode fazer uso de outros recursos gramaticais
para melhor organizar seu comportamento verbal e atingir com mais eficácia as
pessoas envolvidas no episódio verbal, tais como, “Mas”, “E”, “Ou”, entre
outros.
Ao falar sobre os aspectos gramaticais e sintáticos
do comportamento verbal por meio dos autoclíticos, Skinner (1957) retoma as
contingências de reforçamento como a principal fonte de compreensão deste
fenômeno verbal. Para o autor, não há necessidade de recorrer à linguística estruturalista
para explicar a ocorrência dessas unidades de respostas quando uma análise
funcional pode identificar melhor a aquisição e o padrão dos comportamentos
verbais, e as consequências relacionadas com sua emissão.
O comportamento do ouvinte por meio de processos
autoclíticos pode ser instalado a partir de condicionamento reflexo e de
estímulos discriminativos. Assim, um estímulo neutro pode adquirir propriedades
eliciadoras para uma resposta reflexa se for emparelhado repetidas vezes ou com
muita intensidade com tais respostas. Ou seja, um estímulo escrito ou sonoro
“Cuidado!”, inicialmente neutro, se emparelhado com respostas reflexas de
dilatação da pupila, tremor ou sudorese, pode tornar-se suficiente para que o
ouvinte emita tais respostas reflexas na presença dos referidos estímulos. Além
disso, a palavra “Cuidado” pode adquirir, ao longo da história do indivíduo,
propriedades discriminativas que sinalize algo no ambiente que seja perigoso e
que algum tipo de resposta do ouvinte deve ser emitida para que ele seja capaz
de lidar com uma possível alteração de seu ambiente.
Este processo também ajuda a explicar um tipo de
alteração que o ouvinte ou observador pode fazer em seu ambiente por meio de
uma "instrução", ou seja, um indivíduo pode emitir certos tipos de
resposta, verbais e não verbais, por causa dos estímulos verbais que ocorrem em
condições específicas. Assim, um falante informa um ouvinte sobre como agir em
determinada situação e caso o ouvinte se comporte como foi instruído, diz-se
que ele agora sabe algo que não sabia sobre o evento em questão. Por exemplo,
se um ouvinte recebe a informação “Hoje é sexta-feira 13 e há gatos pretos na
vizinhança, cuidado com o azar”, esta instrução permite que ele saiba, conheça
e altere seus comportamentos em decorrência do que foi instruído. Porém, há
outros fatores que podem afetar o comportamento do ouvinte em seguir certas
instruções. Um destes fatores é o prestígio do falante ou a crença do ouvinte em
relação ao que o falante diz.
Considerações Finais
Por meio destas descrições do fenômeno verbal
autoclítico, podemos então entendê-lo como um operante verbal que, após
estimulação auditiva ou visual, encoberta ou não, visa articular e organizar
uma resposta verbal, sonora ou motora, e que seu controle dependerá das
relações contextuais presentes no episódio verbal. É importante notar que esta
categoria também aponta o falante como ouvinte de si mesmo. Nesta unidade, Skinner
(1957) busca atribuir ao autoclítico uma característica peculiar do
comportamento verbal que, mesmo sendo explicado por meio de aspectos
gramaticais e sintáticos, também é aprendido e mantido pela comunidade verbal.
*Texto desenvolvido a partir do aprendizado na disciplina Comportamento
Verbal do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento da
UNB.
Referências
Skinner,
B. F. (1957). Verbal Behavior. Cambridge, Massachusetts: B. F. Skinner Foudation.
Souza, C. B. A.,
Miccione, M. M. & Assis, G. J. A. (2009). Relações autoclíticas, gramática
e sintaxe: O tratamento skinneriano e as propostas de Place e Stemmer. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 61 (1).
Retirado de http://seer.psicologia.ufrj.br/index.php/abp/article/view/186/301
em 13 de junho de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário