Skinner (1957) propôs em seu livro Verbal Behavior uma análise inovadora
dos fenômenos verbais, diferente das análises propostas pela Psicologia
tradicional e Linguística. O objetivo principal do autor é demonstrar que
comportamentos como o falar, escrever, pensar, e todas as formas de verbalização são determinados por
variáveis que compõe o contexto dos indivíduos e por isso podem ser analisados
funcionalmente e não só topograficamente. Para o autor, é preciso encarar a
comunicação humana como um comportamento social e não como um evento metafísico,
pois o comportamento verbal trata-se de pessoas se comportando dentro de uma
comunidade verbal e não de estruturas linguísticas, psíquicas ou mentais.
Ele também explica que não usa do termo "fala" para não
restringir o fenômeno a comportamentos vocais e não desconsiderar o pensar, o
escrever, o ler, etc.
No que se refere ao comportamento vocal, Skinner
(1957) mostra que o comportamento verbal vocal é executado por uma complexa
musculatura decorrente de um aparato biológico, selecionado ao longo da
evolução e característico da espécie humana. O autor aponta que este tipo de
comportamento pode ser medido por meio de registros acústicos ou mecânicos, mas
ressalta que as complexas respostas musculares do comportamento vocal afetam o
meio verbal pela produção da "fala" audível e que não precisamos
conhecer todos os detalhes de uma resposta vocal desde que o padrão sonoro que
ela produz obtenha certo efeito sobre uma comunidade verbal específica.
Skinner (1957) aponta que o comportamento verbal é
usualmente o efeito de múltiplas causas e suas consequências são mediadas por
outras pessoas, um ouvinte especialmente treinado pela mesma comunidade verbal
do falante. Em outras palavras, o comportamento verbal é definido como um
comportamento cujos efeitos sobre o mundo só são possíveis pela mediação de
outras pessoas. O autor ainda demonstra que o comportamento verbal é um
operante verbal, ou seja, está sob controle de estímulos antecedentes e é
suscetível a reforçadores. Um operante verbal precisa ser analisado de forma
funcional, apontando os estímulos ambientais que antecedem o comportamento
verbal e demonstrando que suas consequências, reforçadoras ou punitivas, serão
mediadas pelo ouvinte. Pode-se dizer que, diferente de outros comportamentos
operantes, o operante verbal é regulado por práticas culturais.
Segundo Skinner (1957) o ouvinte responde aos estímulos
verbais produzidos pelo falante. O indivíduo é falante ao comportar-se
verbalmente perante o outro e torna-se um ouvinte ao comportar-se
funcionalmente em relação a estímulos verbais produzidos por outros indivíduos
ou por si mesmo. O comportamento do falante e do ouvinte, em interação, compõe
aquilo que se chama de episódio verbal total.
Um exemplo de análise funcional de um episódio
verbal segue abaixo:
Em um episódio de compra uma pessoa (falante) está
diante de um produto sem preço e pergunta a outra pessoa (ouvinte): “Quanto
custa?”. O ouvinte responde: “R$20,00”. Observa-se que para resolver um
problema o falante recorre a um ouvinte; o comportamento do falante de
perguntar o preço do produto é reforçado pelo ouvinte quando este lhe diz o
preço. Saber, por meio de outra pessoa, o preço de um produto que antes não se
sabia é a consequência mediada que o comportamento do falante produziu. Por
meio da análise funcional deste episódio verbal, podemos inferir que o falante
perguntou o preço do produto para outra pessoa porque provavelmente teve o
mesmo tipo de comportamento reforçado anteriormente em contextos parecidos.
Neste programa, Skinner (1957) também trata das
variáveis independentes que devem ser manipuladas e que ajudam a compreender o
comportamento verbal, as principais são: condicionamento e
extinção, controle de estímulos, motivação e emoção e controle
aversivo. O autor insiste que entendamos que o comportamento verbal é um
conjunto de variáveis determinadas pelo contexto de sua emissão. E que a análise
deste fenômeno deve ser funcionalista e contextualista, mesmo que seja mais
difícil do que simplesmente entendê-lo de forma metafísica e mentalista. O
autor aponta, ainda, que os comportamentos verbais dependem fortemente de
fatores motivacionais (operações estabelecedoras) e que os episódios verbais
pressupõem a existência de audiência, o que implica no fato de que todo
comportamento verbal é social.
Considerações Finais
O papel da causação múltipla e da consequência
mediada na análise do comportamento verbal é ao mesmo tempo rico e complexo.
Este tipo de análise é fundamental para a explicação do comportamento verbal,
que não pode ser definido apenas por suas consequências, o contexto também deve
ser levado em consideração.
A proposta Skinneriana da análise funcional do
operante verbal é fundamental para a compreensão dos fenômenos sociais,
principalmente porque este tipo de comportamento é extremamente frequente no
cotidiano das pessoas. Para a prática da Psicologia, a análise funcional dos
episódios verbais torna-se instrumento fundamental para o entendimento de
fenômenos que envolvem: a construção alguns padrões comportamentais (como os de
gênero), as manifestações artísticas (como teatro e literatura), a prática
psicológica (como na clínica), etc. A proposta de Skinner permite que o
comportamento verbal seja estudado de forma interdisciplinar, pois as múltiplas
variáveis de controle podem ser fragmentadas e explicadas por diversas áreas do
conhecimento humano.
Referência
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. Cambridge, Massachusetts: B. F. Skinner Foudation.
*Texto desenvolvido a partir do aprendizado na disciplina Comportamento Verbal do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento da UNB.
*Texto desenvolvido a partir do aprendizado na disciplina Comportamento Verbal do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento da UNB.
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