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Após discutir as relações funcionais do
comportamento verbal, Skinner (1957) revelou que uma única resposta (verbal ou
não verbal) pode ser, e usualmente é, função de mais de uma variável e que uma
única variável costuma afetar mais de uma resposta. Neste sentido, a resposta verbal
“Cobra!” pode ser um mando para alguém ter cuidado, pode ser um tacto para
sinalizar uma cobra no ambiente ou ainda pode ser uma resposta ecóica, textual
ou intraverbal. Além disso, diferentes contextos e pessoas poderão reforçar
diferencialmente a resposta verbal “Cobra!”, ou seja, a força de uma resposta
verbal será múlti determinada pela combinação da comunidade verbal com outras
variáveis de controle.
Para Skinner (1957), é claro que qualquer amostra do
comportamento verbal é controlada e relaciona-se funcionalmente com muitas
variáveis que operam ao mesmo tempo, pois qualquer resposta sob o controle de
uma variável tem uma boa probabilidade de estar relacionada com outras
variáveis também presentes. Isto significa que, se quisermos discutir sobre comportamento
verbal ou analisá-lo de forma funcional, precisamos ter certeza de que levamos
em conta todas as variáveis
relevantes que compõem o fenômeno verbal.
Um tipo especial de causação múltipla diz respeito
às audiências múltiplas que são aquelas variáveis múltiplas que controlam
respostas diferentes ou a mesma resposta de diferentes maneiras. Assim, uma
resposta verbal pode ser reforçada por uma audiência e punida por outra, ou
ainda, a mesma resposta pode ser reforçada e punida pela mesma audiência
dependendo do contexto e de outras variáveis envolvidas. Além disso, o autor
aponta que a presença de uma audiência negativa só pode ser detectada se uma audiência
positiva já tiver estabelecido seu efeito sobre uma determinada resposta
verbal. Uma resposta verbal que foi reforçada e fortalecida pode perder sua
força caso uma audiência negativa esteja em operação, como por exemplo: uma
criança que fala obscenidades na presença de outras crianças pode ter suas
respostas verbais reforçadas e mantidas por esta pequena comunidade, mas ao
emitir as mesmas respostas obscenas na presença de um adulto pode ter seu
comportamento verbal punido. Em outro caso, se o auditório negativo não for
predominante, o resultado pode ser uma perda da eficácia diante de auditório positivo.
É importante ressaltar que algumas respostas verbais podem nunca terem sido
reforçadas, pois em sua primeira emissão houve uma supressão de sua força por
conta da intensidade punitiva de alguma audiência.
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Outra forma de controle por variáveis múltiplas diz
respeito à estimulação suplementar. Considerando o fato de que as contingências
são complexas, nem sempre a resposta verbal será afetada por todos os seus
antecedentes e consequentes, ou seja, por suas múltiplas causas. Propriedades
específicas da condição estimuladora podem controlar com maior ou menor força a
resposta verbal. Neste sentido, a estimulação
suplementar pode contribuir para o aumento da probabilidade de ocorrência de respostas
já existentes no repertório do indivíduo. Em outras palavras, a estimulação
suplementar pode servir como estimulo para a ocorrência de uma resposta que
esteja sob controle fraco. É por meio de tal estimulação que, normalmente, o
falante induz o ouvinte a dizer algo que, de outra forma, ele não diria.
Há alguns fatores que contribuem para a estimulação
suplementar, a contar: as deixas formais e temáticas e também as investigações
formais e temáticas. Nas deixas formais, um indivíduo pode apresentar uma
sugestão ecóica para outro que esteja em uma verbalização com controle
intraverbal, ou o mesmo indivíduo pode recorrer a uma sugestão textual de suas
próprias anotações. A conexão intraverbal pode ser fraca, assim outra pessoa
pode emitir uma resposta verbal ecóica, dizendo uma palavra, para que o falante
consiga re-conectar os estímulos presentes do controle intraverbal, ou alguma
anotação pode funcionar como deixa com esta mesma função de re-conectar os
elementos intraverbais. Em geral, frases
incompletas de um falante inclinam o ouvinte a emitir qualquer resposta verbal
que venha a completar o que o falante poderia dizer.
No caso das deixas temáticas, uma sugestão para uma
resposta verbal aparece sob a forma de um tacto ou de uma resposta intraverbal.
Estes tipos de deixas são conhecidos como “palpites”. Assim, enquanto uma
sugestão formal seria uma palavra sussurrada ou rabiscada num papel, uma deixa
temática consistiria em estímulos verbais, comumente evocado em relação ao
contexto presente do falante e do ouvinte que são inicialmente emitidos como
respostas intraverbais.
Nas investigações formais, que também podem se
analisadas pelos estímulos ecóicos ou textuais, outras variáveis podem operar
de forma mais eficaz como fontes suplementares de força. Uma vez que exista
fraqueza do estímulo ecóico ou textual devemos sondar outros estímulos que
poderiam estar emparelhados com a resposta verbal a ser emitida. Assim, podemos
produzir um comportamento verbal por meio de qualquer variável que reforce o
comportamento, independentemente da forma, ou por meio de qualquer variável
combinada com variáveis puramente formais. Já nas investigações temáticas, uma
pessoa pode emitir um mando que sinalize que algo precisa ser dito, ou seja, um
indivíduo pede que outro emita uma resposta verbal que esteja sob controle de
estimulação intraverbal. Em geral testes projetivos e de percepção usam este
recurso.
Após discutir sobre a estimulação suplementar e
apresentar diversas formas para se fortalecer uma resposta verbal, Skinner
(1957) aponta que um indivíduo pode emitir verbalizações cujas respostas
verbais serão fragmentárias e continua atribuindo a este fenômeno a causação
múltipla. Em outras palavras, a combinação ou o emaranhado de duas ou mais
variáveis, de operantes com a mesma força, de audiências com controle fraco, ou
até mesmo de unidades mínimas, produzem respostas verbais e estas respostas
podem aparecer de formas fragmentadas. Neste sentido, podem ocorrer respostas
verbais distorcidas ou sem sentido.
Para Skinner (1957), respostas pobremente
condicionadas são mais propícias à fragmentação. As recombinações dos
fragmentos de respostas são mais frequentes no comportamento das crianças
pequenas, bem como no dos adultos que estão aprendendo uma nova língua. Até
mesmo um repertório bem estabelecido pode sofrer recombinação em condições de
fadiga, de doença ou por efeito de certas drogas. Estimulação aversiva também
tende a produzir esse tipo de distorção.
Mesmo que as combinações possam ser estudadas como
meras formas de respostas, separadamente das variáveis ou controle, é
importante notar que duas respostas tendem a ser fortes ao mesmo tempo caso
ambas sejam funções da mesma variável. Muitas destas combinações resultam de
misturas de dois ou mais tactos sob
o controle do mesmo estímulo. Até mesmo os estímulos ecóicos e textuais podem
contribuir com fragmentos se ocorrerem condições apropriadas. Além disso, como
já foi dito pelo autor, muitas combinações
mostram a interação de tactos e de intraverbais, ou de dois ou mais
intraverbais.
Considerações finais
O fenômeno verbal pode
ser explicado didaticamente por meio da definição de cada operante verbal que
controla os episódios verbais, mas é imprescindível atribuir a este fenômeno a
causação múltipla, bem como o papel crítico das contingências culturais. A múlti
determinação do comportamento é um princípio importante da aprendizagem e não
seria diferente para o comportamento verbal, a causação múltipla contribui para
o entendimento do processo pelo qual os indivíduos falam, escrevem, lêem e se
expressam, porque estão em constante interação com sua comunidade verbal, ou
seja, estão suscetíveis às interações culturais. Além disso, é importante
ressaltar que, uma única variável, ou uma única condição operante, ou até mesmo
o fato dos humanos terem condições fisiológicas para verbalizarem e se
expressam, não torna suficiente a explicação do fenômeno verbal.
Referências
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. Cambridge, Massachusetts: B. F. Skinner Foudation.
* Texto desenvolvido a partir do aprendizado na disciplina Comportamento
Verbal do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento da
UNB.